Silos organizacionais e o impacto no amadurecimento da cultura de qualidade e segurança de alimentos
Os silos organizacionais se formam quando um grupo de pessoas, setor ou departamento atua de forma isolada, com pouca troca de informações, comunicação e colaboração com outras áreas. Vimos isso na prática em inúmeras empresas que atuamos e observamos o quanto que estes “muros invisíveis” impactam na eficácia dos sistemas de gestão da segurança e da qualidade, pois afetam o engajamento, comunicação interna, eficiência operacional, trabalho em equipe “soma dos esforços”, sentimento de dono, inovação e experiência com as partes interessadas.
Os silos organizacionais, quando presentes em empresas do setor de alimentos, representam barreiras significativas para o amadurecimento da cultura de qualidade e segurança de alimentos. Ao restringirem a comunicação e a colaboração entre áreas, prejudicam diretamente a forma como a visão, os valores e as práticas de segurança de alimentos são compreendidos, incorporados e vivenciados por todos.
Considerando as cinco dimensões de cultura de segurança de alimentos consideradas no posicionamento da Iniciativa Global de Segurança de Alimentos (GFSI) associo o impacto dos silos organizacionais da seguinte forma:
Visão e missão
Silos fragmentam a visão e missão, pois cada área passa a trabalhar com objetivos próprios, muitas vezes desalinhados com a meta global de garantir alimentos seguros.
O resultado é que a segurança de alimentos deixa de ser um compromisso coletivo para ser um “assunto do setor da qualidade”.
Pessoas
A desconexão entre áreas dificulta que todos se sintam responsáveis pela segurança de alimentos. Isso influencia também o sentimento de dono e a busca pelos resultados de forma mais abrangente.
Isso leva à percepção equivocada de que a responsabilidade recai apenas sobre um departamento, reduzindo o engajamento e a corresponsabilidade.
Adaptabilidade
Empresas com silos têm menor capacidade de reagir rapidamente a incidentes ou mudanças regulatórias, pois a troca de informações é lenta e fragmentada.
Falta de integração impede ações preventivas coordenadas e uma visão mais ampla na busca pela solução de problemas.
Consistência
A aplicação das práticas de segurança de alimentos varia entre setores, criando pontos fracos no sistema de gestão;
Procedimentos e controles deixam de ser aplicados de forma padronizada e sem visibilidade da integração entre os processo.
Percepção de perigo e risco
Em um ambiente fragmentado, a avaliação e a comunicação de riscos não são compartilhadas de forma ampla, resultando em decisões parciais e falhas de controle.
A FSSC 22000 em sua versão mais atual requer que o plano de cultura de segurança de alimentos considere minimamente quatro elementos, no entanto os silos organizacionais reproduzem impactos negativos a eles se não forem eliminados.
Comunicação
Silos reduzem a transparência e dificultam a disseminação de informações críticas, como mudanças em procedimentos, alertas de riscos e resultados de auditorias.
Treinamentos
Ações formativas ficam restritas a determinados setores, sem incluir todos os colaboradores que possam impactar a segurança de alimentos.
Feedback dos colaboradores
O isolamento de áreas impede que sugestões, percepções e alertas de colaboradores cheguem aos tomadores de decisão, enfraquecendo a cultura de melhoria contínua.
Desempenho
A medição e o acompanhamento de indicadores de desempenho tornam-se parciais, já que nem todas as áreas reportam de forma integrada, prejudicando a análise sistêmica.
A presença de silos organizacionais compromete a maturidade cultural porque não proporciona a colaboração necessária para que todos os colaboradores incorporem e pratiquem os princípios da gestão da qualidade e segurança de alimentos. Para superar esse desafio, é fundamental promover integração interdepartamental através da abordagem de processo, comunicação interativa e programas de cultura robustos, que envolvam todos os níveis hierárquicos.
Referência:
FSSC Foundation. Esquema FSSC 22000 – Versão 6. 2023.
Global Food Safety Initiative (GFSI). Uma cultura de segurança de alimentos. Position Paper. 2018.
A S2G fez uma tradução voluntária para colaborar com os estudos sobre cultura de segurança de alimentos, caso queira acessar e baixar, clique aqui: https://s2gestao.com.br/uma-cultura-de-seguranca-de-alimentos/