O Rio de Janeiro e a Baixada Fluminense, há 12 dias, vem relatando problemas com a qualidade da água fornecida pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE).

Devido a falta de esclarecimentos oficiais por parte da CEDAE, diversas FAKE NEWS estão sendo divulgadas pelas redes sociais. Dentre elas, um áudio no WhatsApp com SUPOSTOS esclarecimentos feitos pela Fiocruz, sobre a qualidade da água ou, até mesmo, o alerta urgente emitido pela CEDAE e pelo Hospital Samaritano referente à suposta recomendação das empresas para que a população do Rio não consuma água da torneira ou de filtro.

Com isso, a S2G em parceria com a Analista do Laboratório de Microbiologia do Instituto de Tecnologia Ambiental da Firjan SENAI, Camila Barreto, desenvolveu perguntas e respostas com as principais dúvidas sobre o assunto.

1)        O que está acontecendo com a distribuição de água pela CEDAE?

A atividade humana e uma constante descarga de matéria orgânica nos mananciais que abastecem a cidade, como por exemplo, Manacial do Rio Guandu, que está fortemente associada à crescente eutrofização desses sistemas.

Com isto, o ambiente se torna favorável à ocorrência de florações de algas e cianobactérias, deixando a água com aspecto esverdeado e podendo causar alterações no odor e sabor, devido aos compostos produzidos por estes microrganismos. Além disso, as florações também geram desequilíbrio no ecossistema pela diminuição brusca do oxigênio dissolvido, causando outros fenômenos como a mortandade de peixes frequentemente observada na Lagoa Rodrigo de Freitas.

Até o momento, em nota de esclarecimento divulgada em 07/01/2020, a CEDAE informou que técnicos detectaram a presença da substância geosmina em amostras de água, e que os demais parâmetros se encontraram inalterados segundo a Portaria de Consolidação n° 5 de 28 de setembro de 2017 do Ministério da Saúde.

2)        O que é Geosmina?

É um composto orgânico produzido por espécies de actinobactérias presentes no solo. Quando chove, é responsável pelo cheiro característico de “terra molhada”, fenômeno conhecido como Petricor.

A geosmina também é produzida por algumas espécies de cianobactérias, sendo observada em florações deste microrganismo, ou seja, quando há o crescimento exagerado em um ambiente. Este crescimento exagerado é fruto do aumento das contaminações dos rios pelo esgoto industrial e residencial que não é tratado ao longo da Baixada Fluminense, sendo lançado diretamente no Rio Guandu.

A substância não oferece riscos à saúde, mas altera o gosto e o cheiro da água.

3)        Possui algum perigo de ingestão da água nestas condições?

Não. A presença da geosmina, não oferece riscos à saúde.

Além da geosmina, as cianobactérias podem produzir outras substâncias, como as cianotoxinas, dentre elas microcistina, saxitoxina e cilindrospermopsina, que são tóxicas mesmo em baixas concentrações. Esses compostos podem afetar o sistema nervoso e o fígado, causando sérios danos à saúde, e a análise da sua presença na água de abastecimento é recomendada pela Portaria já citada acima.

Até o momento, em nota de esclarecimento divulgada em 07/01/2020, a CEDAE, detectou apenas a substância geosmina, e os demais parâmetros pesquisados encontraram se inalterados.

4)        Quais medidas de precaução podem ser tomadas pelos consumidores?

Reunimos aqui algumas medidas de controle que podem ser úteis diante desse agravo social considerando também as contribuições que foram repassadas por profissionais da área.

Quem não perceber nenhuma alteração de gosto, cor ou sabor da água pode continuar consumindo normalmente.

Caso algumas dessas alterações sejam identificadas, é indicado que utilizem filtro de carvão ativado. O mesmo está sendo adotado como medida pela própria CEDAE, em nota de esclarecimento divulgada no dia 09/01/2020, e irá servir para reter a geosmina e outras substâncias.

Para casos em que a água não esteja turva e apenas com alteração em odor, indicamos o procedimento de fervura. A geosmina é um composto volátil, porém, para garantir que o procedimento seja eficaz, é necessário a fervura por 20 a 30 minutos. Com esse tempo, outras substâncias e perigos podem ser eliminados.

Alertamos que o uso de cloro deve ser utilizado apenas para desinfecção após o tratamento convencional. E tem que ser usado com muita cautela, pois o cloro acima de 2 ppm reage com o PVC das tubulações domésticas e pode produzir trihalometanos, altamente cancerígenos.

Por fim, indicamos o uso de água mineral para os grupos de riscos e pessoas que não tem condição de realizar nenhum dos procedimentos descritos acima. Neste ponto é importante que durante a compra a embalagem e o lacre de segurança estejam íntegros, verificar se o produto é registrado no ministério da saúde (basta procurar o número do CNPJ da empresa no rótulo da água e fazer uma busca rápida no site da Anvisa), observar se não há sujeira ou partículas sólidas no interior da embalagem e se o produto está dentro da validade.

Aconselhamos que durante este período a frequência do monitoramento de reservatórios de água e elementos filtrantes seja maior, visto que é importante mante-los em condições de qualidade para atender esta sobrecarga de sujidades nestas superfícies de contato.

O Ministério Público já cobrou da Companhia Estadual de Água e Esgoto (CEDAE) mais informações em relação a qualidade da água. Os promotores querem que a empresa divulgue na internet os resultados da análise da água desde quando os problemas na qualidade do abastecimento começaram, segundo o jornal O Globo.

Após a cobrança do MP, hoje (15 de janeiro de 2020), o presidente da companhia, Hélio Cabral, informou que os filtros de carvão ativado serão instalados e que na próxima semana a água proveniente do Guandu não terá mais a presença da geosmina. Além disso, informou que os reservatórios residenciais de mais de seis mil litros podem ficar por “bastante tempo” com a presença de geosmina, mesmo depois da solução do problema no reservatório de Guandu – informações retiradas do globo.com.

Com isso, orientamos os consumidores assim que a qualidade da água de abastecimento for normalizada, que seja realizada, se possível, a higienização dos reservatórios de água e, além disso, troca do elemento filtrante.

Continuamos juntos na jornada de food safety, e no combate a FAKE NEWS nesta área.