O Projeto S2G Convida teve a oportunidade de conversar com a nutricionista Ana Luiza Sauerbronn sobre as Plantas Alimentícias Não Convencionas – PANC no dia 22 de maio de 2020. As PANC proporcionam maior inovação na produção de alimentos e ainda geram muitas dúvidas ainda, como exemplo: sobre onde encontra-las para compra, forma de consumo e segurança de alimentos. Trouxemos aqui um resumo desse interessante bate-papo e deixamos vocês. Degustem!

  • Significado de PANC e exemplos conhecidos

PANC é um acrônimo, de Plantas Alimentícias Não Convencionais.

Representa centenas de espécies vegetais cultivadas ou que acontecem na natureza de forma espontânea, sendo popularmente chamadas de mato ou erva-daninha por desconhecimento.

O termo PANC vai além da sua definição literal, pois compreende um significado mais amplo, que tem relação com saberes ancestrais, cultura alimentar e amplia nossa percepção sobre a produção de alimentos.

Sobre o “não convencional” é importante considerar que vai depender da localização geográfica. Em Brasília/DF a ora-pro-nobis (Pereskia aculata) é PANC, pois não é convencional, em Minas a ora-pro-nobis é convencional não sendo chamada de PANC. As folhas da vinagreira (Hibiscus acetosella), é uma PANC no Rio, mas não é pro Maranhão, onde que consome a vinagreira na culinária tradicional do estado, o cuxá.

Sobre o “não convencional” temos ainda a espécie vegetal PANC ou ainda apenas a parte da espécie como uma PANC. Da bananeira (Musa paradisíaca) consumimos a banana (fruto), mas o umbigo da bananeira (ponta do cacho) também pode ser consumido, sendo considerado uma PANC, por exemplo.

Alguns exemplos de PANC são: bertalha (Basella alba L., Basella rubra L. ou Basella nigra L) e a bertalha-coração (Anredera cordifolia) cujas folhas são comestíveis com aplicação culinária similar ao convencional espinafre.

  • Tendências para o consumo de PANC no Brasil e no mundo

Eu particularmente não conheço estudo que tenha avaliado essa tendência. E precisamos começar a criar esses dados, mas como são muitas as espécies, seria uma avaliação complexa no conjunto delas.

Dados da FAO de 2019 mostram que cerca de 6 mil espécies de plantas cultivadas para alimentação, menos de 200 contribuem substancialmente para a produção mundial de alimentos, e apenas 9 respondem por 66% da produção agrícola total. Vamos dizer que esse 9 são aqueles que sempre tem nas prateleiras e na monocultura: milho, soja, batata, cenoura, alface, tomate, enfim, as mesmas de sempre. E conhecimento e consumo das PANC pode trazer pra uma variedade incrível de alimentos, muitos ricos nutricionalmente, e com modo de produção sustentável.

As PANC precisam ser tendência, pois garantem da produção de alimentos ao longo do tempo. Seu método de produção preservar o meio ambiente e manter o solo fértil, garantindo a produção de alimentos no futuro próximo e distante. O desafio para que essa tendência se consolide é o crescimento e consolidação do consumo. Nesse ponto crítico temos os aspectos de segurança, que precisam de mais atenção pois o uso se baseia apenas nos históricos de consumo, e o aspecto sensorial que envolve diretamente as práticas culinárias e conhecimento sobre elas.

No panorama mundial, acredito que o Brasil, com a incrível biodiversidade que possui seja pioneiro no assunto. Não conheço país que tenha o mesmo termo ou movimento de resgate de espécie vegetais não convencionais.

  • Motivação para a produção / consumo de PANC

A motivação é um ponto extremante importante. Existe a importância ambiental sobre a qual passaria a palavra pra pessoas que fariam a exposição do assunto com mais propriedade, como a Jessica Pedreira, engenheira florestal que trabalha com agrofloresta, ou mesmo ao Valdely Kinupp, biólogo e o maior conhecedor de PANC em todos os aspectos. Em resumo, são alimentos obtidos por meio do cultivo sustentável que presenta a biodiversidade, sem uso de agrotóxicos (defensivos agrícolas).

É justamente na motivação para o consumo que precisamos avançar. Existe o aspecto nutricional como recurso a novas fonte de proteína vegetais (ex. Folha da moringa tem cerca de 300g/100 de proteína em base seca), o aspecto substitutivo ao convencional pois promove equilíbrio ambiental reduzindo monocultura (ex. cará-moela, Dioscorea bulbifera L. por batata inglesa), além de serem centenas de espécies permitindo uma grande variedade de novos sabores e inovação na culinária.

Pela  fato de compreender um grande número de espécies e pela ausência do aval da Anvisa quando a um lista positiva das espécies e sua parte comestível, a população em geral tem mais resistência.

  • Situação da regulamentação para a produção de PANC no Brasil

O regulatório de alimentos compreende o MAPA – Ministério da Agricultura e a Anvisa vinculada o MS – Ministério da Saúde. Quando precisamos avaliar algo novo que população vai ser exposta ao consumo, o caminho clássico é a petição de avaliação de Novos Alimentos ou Ingrediente que é o caminho para que o órgão de sanitário do pais receba pedido de avaliação de alimentos que não tem consumo tradicional no país.

E temos uma outra realidade que é uso de alimentos para uso culinário, as frutas e hortaliças em geral. Essas vendidas in natura não passam por esse requisito de avaliação, porém existe o controle agrícola por parte do MAPA quando em grande escala de produção e essas espécies estão justamente fora dessas duas realidades.

Como dado para avaliação de segurança das PANC temos o histórico de consumo, a forma tradicional usada, indicação da parte da planta usada e o modo de preparo por meio de conhecimento tradicional. Se faz necessária promoção de pesquisa para realização de estudo de genotoxicidada dessa segurança, em termos sanitários. A Anvisa está sensível ao tema das PANC, e tem sinalizado interesse quando abordada, porém ela não é um órgão de pesquisa, mas uma agencia reguladora e por isso precisa de articulação com Embrapa ou outros órgãos de pesquisa para que possa ser alimentada de evidencias científicas para definir as partes seguras da planta. Se existe alguma restrição de consumo.

Não há uma avaliação da Anvisa sobre as partes comestíveis, porém não quer dizer que no mesmo ambiente. Dentre os vegetais O espinafre, por exemplo, tem em sua composição ácido cianídrico, porém nós consumimos e nada acontece, por causa da dose.

A IN 28/2018 é uma lista positiva da GGALI/Anvisa que reuni novos ingrediente e novos alimento aprovados e permitido o uso se registro. É uma lista ampla, não apenas de PANC.

Temos que avançar na geração de dados de consumo. Dados de histórico de consumo por populações específicas é possível encontrar registros, porém precisamos de mais evidência de dados de segurança pra algumas espécies, conhecer também mais propriedades em estruturas químicas presentes nelas. Promover mais produtos e colocar eles nas prateleiras.

  • Onde encontrar PANC para consumo e como introduzir na alimentação

Para comprar oriento a buscar no site da CSA  – Comunidade que Sustenta a Agricultura (http://www.csabrasil.org/csa/). Lá é possível saber os agricultores que produzem PANC no seu estado e onde vendem. Em Brasília temos a Flora Orgânica que vende hortaliças convencionais e PANC on line (https://floraorganicos.instabuy.com.br/), entre outras iniciativas locais de horta urbana.

Consumir em restaurantes da sua cidade. Alguns dos nomes são: Buriti Zen (Brasília), Girassol (Brasília), Mercadinho Mikami (Brasilia), Caxiri (Manaus), Casa da Pamonha (Manaus).  Bazzar (RJ), Lilia (RJ), Lasai (RJ), Puro (RJ), Fazenda Culinária (RJ), Térèze (RJ), Org Bistrô (RJ), Naturalie Bistro (RJ), Nosso (RJ), Irajá (RJ)

Sobre a introdução na dieta, não há uma regra. Mas é importante comprar a PANC diretamente de quem conhece a planta que colhe, o agricultor da feira.

Bate e Volta PANC em uma ou poucas palavras

Dica de livro – Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil. KINUPP, Valdely Ferreira; LORENZI, Harri. Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2014.

Dica de curso – Depende do objeto de interesse de quem procura o curso. Tem os de toxicologia, da IBTox, da LabTox da UnB, os de reconhecimento de PANC e o de culinária.

Presente – inovação.

Futuro – diversidade no prato.

Referencias importantes:

Embrapa – Material Hortaliças Não Convencionais – HortPANC https://www.embrapa.br/busca-de-solucoes-tecnologicas/-/produto-servico/4470/encontro-nacional-de-hortalicas-nao-convencionais-hortpanc

Neide Rigo, nutricionista – redes sociais

Irany Artech, nutricionista – rede sociais

Mahedy Passos, bióloga – livro POP PANC é POP (Plantas Alimentícias Não Convencionais)

Mato no prato, Beatriz Carvalho e Arthur Rodrigues – https://matonoprato.com.br/